diz-se

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Arranja-me um (des)emprego

Então é isto. O presidente da república lamenta publicamente as suas dificuldades financeiras. O primeiro ministro, esse, encoraja o povo desempregado dizendo que isso, de estar desempregado, é quase uma oportunidade maravilhosa. Que 15% da população já saboreia. Portugal é dos portugueses e temos aquilo que merecemos.
Esta ideia do empreendorismo para todos é das mais bizarras. Não há trabalho? Inventem. Não há poder de compra, não há créditos, não há dinheiro, não haverá até muitos clientes mas abram o vosso negócio. Vamos todos abrir uma mercearia de bairro. Ou uma alfaiataria. Ou uma tabacaria smoke free. Uma sex shop 2 em 1 em que tudo é comestível. Menú do dia com bebida incluída à hora do almoço e uma happy hour a partir das 17h. Vamos ser criativos e vender gadgets muito bonitos ou panelas também bonitas ou macacos do nariz ou bolas de cera das orelhas. Tudo para exportação com o selo Made in Portugal. Ou vamos plantar o Alentejo e o Minho e o Algarve. Ou vamos para o mar, de cana de pesca ou num bote a remos. Refundemos, nós próprios, as confecções do Vale do Ave, vamos abrir um hostel em cada esquina, uma livraria só de livros para kindle, lojas de disco on line mas de rua. Uma loja de APPS em papel.
Vamos, com entusiasmo e sem medos, sair desta crise. Afinal são já quase 1 milhão de desempregados que tanto podiam fazer. Vejam as oportunidades, pá, elas estão todas aí. Podemos ter, num ápice, 1 milhão de novos negócios. De novas empresas! (Não me recordo é de ter ouvido o sr primeiro ministro falar sobre medidas de incentivo ao tal empreendorismo. Mas já ouvi muitas que atrapalham).

Eu tenho um emprego. Apesar de receber menos do que recebia há uns meses e trabalhar bastante mais. Mas tenho um emprego. Mas além disso tenho uma ideia. Até podia dizer "tenho um projecto em mente". Ando com isto na cabeça, e muito pouco nas mãos, há três ou quatro meses. Pode vir a ser um entretenimento, um complemento ou até uma coisa de futuro. Até porque tenho a minha gaja como parceira. Ou sócia?
Mas, lá está, tenho emprego e umas quantas bocas para alimentar e não saio disto. Da ideia. Não me sobra tempo para dar forma ao nosso negócio. E tenho de encontrar uma palavra para não usar mais esta. Negócio.
Pedro, não consigo agarrar esta oportunidade. Lá está. O sr primeiro ministro tem razão. Eu devia era estar desempregado. Já agora, o sr primeiro ministro também.

O Sérgio Godinho tem de mudar a letra da canção.

2 coisas a acrescentar:

Ondina Maria disse...

Aposto na venda de cotão do umbigo. Um sucesso!
Vês como o Passos tem razão? Tivesses tu desempregado e já tinhas materializado a tua ideia, até porque o que há mais por aí é incentivos à ideias dos desempregados.
Nós também temos uma ideia. Mas como ainda tenho emprego, estou no mesmo impasse que tu (embora alimente bem menos bocas). Mas tenho cá para mim que o Passos está a trabalhar no sentido de nos fazer chegar as tais oportunidades...

calita disse...

Olha, sempre achei piada aos homens que chamam sócias às suas gajas. Sócias ou senhoras, "a minha senhora" isto, a "minha senhora aquilo". Não sei, escolhe tu.

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